segunda-feira, 23 de junho de 2014

Ressonâncias

Ressonâncias de outros tempos, sons novos, sons antigos, dissonantes e palavras mortas substituindo-nos a memória, viva parte de nós aos poucos morta, esquecida. Nosso presente feito de passados infames sobrevive às custas de sonhos alegóricos, fantasias que nos atordoam a consciência e nos fazem cambalear pensando que andamos eretos, equilibrados e seguros sobre nossos próprios pés. Repetições fazem nossa segurança, clichês ecoados em lugar de nossa própria história ganham força de verdade e nos cegam, fazem-nos andar sem direção e com passo inconstante, manco, involuntário. Chamamos ordem nosso caos e progresso nossa inércia, nossa inépcia e nosso ruidoso divertimento feito de distrações que nos fazem perder de vista o essencial, preferência que damos às tantas banalidades que inventamos e que apenas nos divertem.

Escrevo dando voltas, prolixidade proposital que escolhi para repetir o movimento do mundo, este abismo de repetições, de certezas rarefeitas e sempre obsoletas, nunca dignas de crédito. Fico no exílio dos absolutos que o mundo relegou ao esquecimento querendo transformá-los em troféus de caça. Minha palavra aqui é quase vã, alcança poucos olhares, porém as deixo aqui, paradoxo de minha literatura quase invisível que escolho fazer para protestar em silêncio, lançando sementes no segredo da terra. A sombra é o lugar da revolução, é o silêncio do pensamento, da reflexão, da vida que se forma sem ser vista até que nasça, forte, retumbante, gerando dores, gritos de alegria e pasmo, gritos de medo e terror, espetáculo alardeado por gritos e cantos, silêncios outrora abafados por quem se cria autor e doutor da verdade: uns fazem de si mesmos os absolutos a que chamam obsoletos, estranha inversão que creem seja verdade irrefutável, seu próprio pensamento.

Uns pensam, outros não. Aqueles fazem silêncio.