sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Contradições

Sempre digo, para mim mesmo, que quero ser livre, mas não me deixo livre de minhas próprias vontades. Parece absurdo dizer que minha vontade me prende e que o que quero torna-me escravo, mas mais absurdo é pensar que fazer-me cativo do instinto, de necessidades que pedem alívio, sempre o mais breve possível, seja ser livre. Desejo, nem sempre o que devo, e por isso por vezes preciso querer o contrário do que imediatamente quero, contrariar meu desejo e fazer o que devo, amar a mim mesmo e saber recusar-me as satisfações que procuro.

Vejo-me sempre cativo de pequenos desejos, de desânimos tão recorrentes, do cansaço que sempre parece pesado demais, das necessidades do corpo que sempre pedem pronto alívio, de minhas vontades, tantas vontades que querem sobreviver, que querem erguer-se sobre a razão querendo convencê-la de que quando satisfeitas me deixariam em paz, mas quando me rendo logo elas voltam, e sempre voltam, maiores, mais urgentes, menos pacíficas, fazendo-me aos poucos dependente de satisfações. Necessidades, descansos, desejos, satisfações, silêncios, segredos, fugas, distrações, trama diabólica que divide meu coração, tantos inimigos que dentro de mim combatem contra Deus, que em silêncio me deixa lutar tentando contrapor o amor que tenho por Ele àqueles tantos inimigos; vejo-me fraco, tão frequentemente caio e enraízo mais profundamente minha dependência deles, aos poucos me perco pensando em querer algum bem contrário ao meu Deus e me deixo por vezes levar por esses desejos que invento tentando encontrar um consolo, enganando-me com as promessas de paz que o alívio me faz.

Quisera ser menos fraco, ao menos um pouco, cair com menos frequência, amar mais o Senhor. Por vezes eu rezo pedindo mais forças, capacidade para não me render em tantos combates, mas nunca recebo qualquer alívio que peça ao Senhor. Motivos para duvidar de meu Deus, porém, eu não tenho, mesmo se tenho fraquezas que sem se cansarem não param de pedir alívio, forças, capacidade. Assim aprendi o que Deus quer de mim. Ele não quer encarnar-se de novo e possuir o meu corpo, calar-me a vontade, fazer-me cativo de um poder mais forte que eu e assim suprimir as fraquezas de meu coração, mas quer que Sua vontade em minha fraqueza seja glorificada, fazendo-me crer que minha humanidade foi na Cruz redimida e não destruída, fazendo-me assim assumir para mim essa mesma vontade, desejando, constante, o bem de meu Deus.

Meu Deus encarnou-se uma vez para sempre e fez-se alimento para comigo ficar. Assim eu O tenho sempre por perto, no meu coração, fazendo viver aqui dentro Sua vontade imutável, invencível, assim tenho sempre constante o desejo de estar com meu Deus. Enquanto meu desejo for maior que o mal, enquanto conservar a graça de Deus em meu coração, permanecerei constante e estável como é o Senhor. Assim fico grato ao meu Deus pela fraqueza que tenho, assim não confio jamais em mim mesmo e a Ele me entrego, sem medo, feliz, sem querer mais alívio ou qualquer consolação. Se sou de meu Deus, não importa ser fraco, importa, sim, tê-Lo sempre comigo.

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