segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Vento sopro

Do vento sopro sinto tocar-me o rosto o leve movimento disto que não vejo e vejo-me em paz. Nenhuma parte de mim se move enquanto sopra sobre mim a tranquila calma brisa que alivia do calor e aqui descanso, e ouço o canto, passarinho tão tranquilo que escuto rezar ao longe de onde estou, descanso. Parece faltar-me nada do que ordinariamente quero, e quero pouco, nada além do que ora tenho enquanto nada falta do que preciso, o que Deus me dá. Sobra-me igualmente nada, mesmo vendo ao meu redor tanta gente que tem tudo aquilo que eu em outros tempos desejava, já não invejo aqueles outros, sento-me tranquilo onde estou e vejo aqui passar o tempo para mim e também eles. Para mim já não é o tempo adversário, ao contrário, é meu amigo, feliz acompanhante de meus passos solitários que não esperam quando já não são, rezam, e seja Deus a decidir quando deverão existir uma outra vez.

A vida, morte se parece, mesmo quando festiva, mesmo alegre, sinto-a fugindo, não a posso segurar perto de mim. Assim a sigo aonde vai, sem saber aonde vou levado às vezes por uma vontade de guardar o que não cabe em minhas mãos ou em meu próprio coração. Vejo-a longe, às vezes perto, mas dentro de mim raramente vejo um traço, um rastro deixado pela vida que persigo, sigo sem saber se vivo, vivo, livre, sem mais preocupações. E o que vejo ao meu redor? Vejo quem tanto quis reter dentro de si a própria vida e assim morreu, crendo-se vivo e livre se prendeu, em si mesmo se encerrou, encarcerado pelo medo de não poder evitar o inevitável, morte intolerável mesmo quando ela distante lhe parece.

Olho o céu e me surpreendo. De tanto bem que vejo aqui ainda tão pouco conheço e vejo, vejo tão imenso universo, tantas vidas variadas, novidades que pululam ares e águas e tantos lugares e vejo poucos que se encantam com mistério tão bonito. Vejo Deus que assim age e se revela deixando-se escondido atrás das obras que pintou, e o vejo em mim a abrir-me os olhos e a fazer-me perceber que "é tudo muito bom". Empresto-lhe meus olhos e ganho dele o Seu jeito de olhar e redescubro assim quem sou, quando do vento sopro sinto tocar-me o rosto o leve movimento deste que não vejo e vejo-me em paz.

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