terça-feira, 18 de outubro de 2011

Memórias

O que já não tenho diante dos olhos, não vejo e não alcança meu desejo, não lhe sinto a ausência e aos poucos disso me esqueço. As lembranças aos poucos escassas se tornam, esvaziando-me delas o pensamento enquanto adormecem num passado que por lá ficou, que deixou marcas que ainda despertam lembranças, mas nada além disso. O que não alcançam meus sentidos, disso já não sinto falta, nem um mínimo desejo que possa mover-me a vontade, fazer-me esboçar qualquer movimento para senti-lo outra vez perto de mim, aos poucos disso me esqueço. Faltas passam, ausências a si mesmas acostumam o coração que não pode mais remediá-las, tornam-se amigas da saudade e se escondem, adormecem, despertam às vezes mas sem muita vida, enfraquecidas, desbotadas.

Vejo se esconderem no tempo aquelas boas memórias que costumavam alentar meu coração com a esperança de revê-las por perto, mas vejo-as longe, distanciando-se aos poucos e pouco, muito pouco sinto daquilo que me faziam sentir. Não tenho mais muitas memórias boas, o bem que tenho sobrevive pouco, dele me esqueço tão logo passa por mim, vivo assim, sem muitos consolos, alegrias somente presentes, nenhuma passada, nenhuma futura. Tenho o que possuo agora, é agora o único tempo que tenho, o único bem que possuo, agora me alegro ou me entristeço, mas disso não guardarei muitas lembranças, não mais, não mais serão lembranças o meu alimento.

O que tenho hoje perto de mim, o que alcança meus sentidos e meus sentimentos? Não saberia descrever se tentasse, mesmo, talvez, se pudesse encontrar alguma palavra ou gesto que pudesse descrever sem muito detalhe o que sinto, impreciso seria em qualquer tentativa que fizesse, em tudo que diria. O que digo já não o sinto, senti, talvez, num tempo passado que por lá ficou, ou, talvez, senti quando vi o que escrevo vivo em alguém perto de mim, sentimentos que chegaram ao meu coração, deixaram seus vestígios e partiram, resolvendo ficar nas palavras que escolho escrever. Trago em minha vida tantas memórias, tantas histórias, poucas minhas, tantas alheias que se tornam minhas, motivos de minhas poucas preces, de minha oração.

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